terça-feira, 9 de julho de 2019

Andre Matos: como se construiu a figura do maior ícone do metal brasileiro


Caminhamos para dois meses da morte de um dos maiores símbolos do rock brasileiro: Andre Matos. Ainda tentamos nos acostumar com a ideia de não termos mais não só sua voz, mas tudo aquilo que ele representava, principalmente, no cenário do heavy metal. 

O fato é que o Andre reunia algumas peculiaridades em sua carreira que fizeram dele uma estrela nesse estilo musical em um país em que, normalmente, se valoriza muito mais estrangeiros do que brasileiros: qualidade técnica, importância histórica, carisma e o fato de ter fincado suas raízes no país onde nasceu. Por isso, mesmo aqueles que não apreciavam tanto seu trabalho o respeitam e reverenciam. Aqueles que se permitiram ser atingidos por sua arte mais profundamente.. o amavam!


Andre Matos foi precursor do metal no Brasil junto ao Viper
Qualidade técnica e importância histórica
A qualidade vocal do Andre apareceu no início da segunda metade dos anos 80 e pegou a todos de assalto. Afinal, naquela época não havia os mesmos recursos de agora, tantos ótimos profissionais do canto espalhados e especializados em rock pesado. Material de estudo era extremamente raro. Até hoje, é difícil encontrar videoaulas de canto ou publicações específicas para o ensino dele.

No início de carreira, sempre se baseou no ídolo Bruce Dickinson, mas isso, ao meu ver, ficava mais pela parte de vestimenta e teatral do frontman do Iron Maiden. Na parte vocal, apesar de não gostar da comparação à época, ele lembrava muito mais o Michael Kiske, então à frente do Helloween, já que possuía uma voz mais leve e aguda do que Dickinson.

Viper   
Andre Matos gravou seu primeiro disco aos 16 anos
O disco de estreia com sua primeira banda, o Viper, foi com apenas 16 anos. Em 1987, o quinteto paulistano lançou Soldiers of Sunrise pela gravadora Rock Brigade, do Antonio Pirani, que também tinha a revista - a maior delas naquele período - para divulgar e alavancar a carreira da banda. Não preciso nem lembrar o quanto era raro uma banda conseguir gravar uma demotape, quanto mais um LP inteiro. 

O álbum de estreia, com uma sonoridade que lembrava bastante Iron Maiden e Manowar, colocou o Viper entre as principais bandas nacionais e canções como a faixa título, H.R. e Knights of Destruction caíram rapidamente no gosto do público que acabou se transformando em uma legião de fãs. Cabe ressaltar que, nessa época, eram raros os shows internacionais no Brasil e, por isso, as bandas daqui eram a opção para os amantes do gênero que ganhava cada vez mais adeptos e espaço também nas mídias, mesmo as não especializadas.

Viper invade o Japão com Theater of Fate
Mas, foi no segundo disco do Viper - Theatre of Fate (1989) que a banda se firmaria como uma das mais conceituadas e badaladas do Heavy Metal nacional estando um pouco abaixo do Sepultura no número de fãs, mas com enorme representatividade em todo o país.

A produção mais elaborada e uma qualidade de gravação invejável para os padrões da época, fizeram desde LP um marco na história deste estilo musical por aqui. Living for the Night se transformou rapidamente no primeiro grande hit da banda, mas todas as canções do álbum merecem igual destaque.

O trabalho do produtor Roy M. Rowland foi muito importante, mas, basta uma pequena pesquisa pelo YouTube para encontrarmos a execução de músicas deste disco antes mesmo da gravação dele. As linhas de voz criadas por Andre Matos, os inúmeros riffs da dupla de guitarristas Yves Passarell e Felipe Machado e a genialidade na composição de quase todas as faixas de Pit Pararell já ficam latentes.

CLIQUE AQUI E ASSISTA AO VÍDEO COM A VERSÃO DE MÚSICAS DO THEATRE OF FATE ANTES DE PRODUZIDAS PARA O LP
- At Least A Chance (é a primeira música do show e a segunda no disco)
- Crime - 08'20 (faixa não entrou no Theatre Fate. Foi gravada nas sessões do terceiro álbum da banda Evolution (1992) já com Pit Passarell nos vocais, mas colocada apenas no EP Vipera Sapiens lançado com exclusividade no Japão em 1993)
- Theatre of Fate - 24'40 (anunciada ainda como End of Fate - nome que seria mudado posteriormente)

Não se acomodar e não ter medo de arriscar
A repercussão do Theatre of Fate alcançou a Europa e, principalmente, o Japão. O Viper se preparava para alcançar voos mais altos quando Andre decidiu abandonar a banda para se dedicar à faculdade de música e regência.

Para muitos, isso não fazia o menor sentido, afinal, o grande sonho de uma banda era gravar um disco - Andre havia gravado dois -, fazer vários shows - o Viper excursionava livremente pelo Brasil inteiro -, ter uma legião de fãs - a banda onde estava arrastava uma verdadeira legião por onde passava - e, por fim, atingir o sucesso fora do país - isso já estava se tornando realidade.
Nenhum argumento dos demais integrantes do Viper fez Andre desistir do que havia traçado para aquele momento. 

Um ano após sua saída do Viper, Andre voltou à cena com o Angra, que o consolidaria como o principal vocalista de rock do Brasil e colocaria a nova banda em destaque rapidamente no cenário do metal local. 
Angra contou com contatos e fama de Andre Matos para chegar ao topo do metal nacional em tempo recorde
Não há como negar que o Angra só tem o tamanho que tem e já começou grande devido a ter à frente Andre Matos. Afinal, entre os cinco músicos que integravam a banda, apenas ele era conhecido. O empresário a apostar no quinteto era o mesmo Antonio Pirani e a atenção que Andre havia despertado no Brasil e, principalmente, no Japão, eram trunfos que só ele poderia proporcionar.

Foram nove anos com o Angra e, quando todo mundo acreditava que esse seria mesmo o futuro de Andre, ele jogou tudo pro alto devido a problemas com o empresário. Andre trouxe consigo o baixista Luis Mariutti e o baterista Ricardo Confessori para montarem um novo expoente do heavy metal no Brasil: o Shaman.
Andre lançou o Shaman em 2000 com parceiros de Angra

Seis anos se passaram, dois discos na bagagem e um DVD com produção à frente para sua época... e Andre resolveu se reinventar, mais uma vez... lançou em carreira solo, algo inimaginável para qualquer outro vocalista do estilo no Brasil.

Foram três excelentes álbuns: Time to be Free (2007), Mentalize (2009) e Turn of the Lights (2012). Com mais poder de decisão sobre seus passos, Andre continuou trabalhando e se mantendo no topo entre os principais símbolos do metal nacional. 

Participou de uma muito bem sucedida turnê em comemoração aos 25 anos do lançamento do Theatre of Fate junto aos seus amigos do Viper e estava na estrada novamente com o Shaman quando todos fomos pegos de surpresa pela triste notícia.

Carisma
Além de ser excelente cantor e se atentar aos pequenos detalhes pertinentes à qualidade do seu trabalho, Andre Matos sempre se preocupou também com outros dois quesitos que fazem toda a diferença para se consolidar e criar um grande público: performance de palco e tratamento junto aos fãs.

Andre morreu como o maior ícone do heavy metal brasileiro
Andre soube como ninguém se colocar na posição de ídolo ciente de sua importância e sem falsa modéstia, mas também não deixava de ser simpático e atender a todos os admiradores do seu trabalho.

No palco, se preocupava até mesmo com os detalhes com o figurino - que, no início, deixavam latente sua admiração por, mas, com o tempo o fez personificar a figura de um maestro do rock. Sabia como poucos criar os climas durante os shows para envolver a plateia e encarar a todos de frente, de peito aberto e olhando nos olhos enquanto empunhava seu microfone usando de sutilidade nos momentos suaves e sendo agressivo quando assim a música lhe pedia.

Made in Brazil e in Brazil
Enquanto alguns representantes também icônicos do metal brasileiro, como os irmãos Cavalera (Igor e Max) acabaram mudando de país para seguirem suas respectivas carreiras, Andre permaneceu por aqui e sempre circulou pelo Brasil com seus shows. Essa proximidade fez manter acesa a chama e não permitiu que Andre caísse no esquecimento dos seus fãs que o acompanharam por décadas.

E assim... Andre Coelho Matos... se tornou ANDRE MATOS!!!!!!  


Um comentário:

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